Entre Figueiras e Abrolhos
- doutrinaparaavida@gmail.com
- 22 de fev. de 2019
- 4 min de leitura
Por Thiago Wilke

“Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada arvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boa fala do que está cheio o coração” – Lucas 6: 43-45
Uma das características mais belas e serenas, ao meu ver, quando estudamos o ministério do nosso Senhor Jesus é perceber o quanto, em sua infindável sabedoria, ele conseguiu extrair de exemplos simples da natureza lições preciosíssimas e práticas para nossas vidas, que sempre nos levam a refletir e crescer em graça. Alguns destes ensinos são leves e nos trazem paz, como por exemplo, o ensino que nosso Pai celeste, que cuida até das aves dos céus e veste os lírios dos campos, cuidará muito mais de nós, que somos seus filhos amados; outros ensinos, porém, nos deixa preocupados e nos levam a repensar nossas ações. Eu creio, que este aqui seja um exemplo muito bom deste segundo tipo.
Neste texto, Jesus vem a tratar na diferença que existe, ou que deveria existir, entre os justos e os não justos, entre os salvos e os perdidos, diferença esta que tem se tornado cada vez mais em semelhança neste tempo mal em que vivemos. Logo de início, Jesus já traz uma definição dura extraída da natureza: existe uma divisão entre as árvores; se pegarmos todas as árvores do mundo, podemos dividi-las em duas categorias: as que dão bons frutos e as que dão maus frutos, sendo que o fruto, como veremos representa apenas a exteriorização da condição primária da árvore.
É muito interessante a forma com a qual Jesus, de forma sábia, associa a árvore ao seu fruto. Todos nós, após um período curto de aprendizado, somos capazes de reconhecer a fruta que cada árvore dá, uma criança rapidamente consegue diferenciar entre uma bananeira, um limoeiro e uma mangueira. A questão aqui é que a árvore, num momento inicial, pode enganar. Eu posso saber que estou diante de uma laranjeira, e esta laranjeira pode ser muito bonita e frondosa e a laranja desta laranjeira pode parecer muito apetitosa, todavia eu somente irei saber a qualidade do fruto da laranjeira após provar da laranja, ou seja, duas laranjeiras diferentes de uma mesma espécie podem gerar frutas diferentes, em uma, a laranja pode ser muito azeda, em outra, doce. Aqui percebemos que se até as árvores podem enganar, nós podemos mais ainda. Quantos pessoas que conhecemos não se apresentam de um jeito, mas quando a conhecemos um pouco melhor ela não se mostra completamente diferente do que aparentavam?
Continuando, Jesus agora vai aumentar a diferença entre uma árvore má e uma árvore boa. A natureza diferente entre uma videira e uma figueira para um espinheiro e um abrolho (abrolhos são plantas rasteiras espinhosas) não permite que estas produzam os frutos daquelas. Assim, de forma prática e direta, ele diz que a diferença entre um salvo e um não salvo está na essência de cada um e esta diferença é tão grande, que é como comparar uma árvore espinhosa a uma dócil videira: ela é óbvia, escancarada, clara, e estas naturezas diferentes são também determinantes do tipo de frutos que elas geram: uma pessoa ainda não regenerada em Cristo não pode gerar frutos bons e nem uma pessoa regenerada em Cristo gerará frutos maus.
Jesus então conclui sua comparação em uma aplicação dura quando nós refletimos: o homem bom só é bom porque, antes de tudo, tem um bom tesouro em seu coração e o homem mau é mau porque seu coração é mau. A diferença primordial, como dissemos anteriormente, está na essência do ser humano. E esta essência é manifesta rapidamente por aquilo que mais fazemos neste mundo: falar. Nossa língua, por mais que tentemos enganar ou esconder, rapidamente revela aquilo que enche nossos corações, ela expressa aquilo que constantemente pensamos. Assim, um verdadeiro servo de Jesus rapidamente se faz conhecer pelo seu testemunho falado: ele quer falar de Jesus, ele quer conversar de teologia, ele quer mostrar ao mundo a razão da esperança de sua fé, ele quer anunciar constantemente a salvação que Cristo o trouxe.
Por fim, deixo algumas aplicações práticas e uma reflexão:
Assim como duas laranjeiras de uma mesma espécie, aparentemente idênticas, podem gerar laranjas de qualidade completamente opostas (uma azeda e outra doce), dois homens, ambos de aparentemente santos, revelarão sua verdadeira essência. Jesus não deu a opção de não darmos frutos: eles sempre surgem, mais cedo ou mais tarde.
É certo que nós podemos demorar anos até conhecer verdadeiramente uma pessoa, mas suas primeiras falas logo nos dão uma ideia, muitas vezes corretas, de quem ela realmente é. Nossa forma de dizer e o conteúdo que sai de nossa boca mostra muito mais quem nós somos do que pensamos.
Finalizando cabe a pergunta: Jesus diz que a árvore é conhecida pelos seus frutos. Quais são os meus frutos? Será que meus amigos e colegas de trabalho percebem rapidamente que sou cristão? Será que a diferença entre mim e entre um não salvo é tão óbvia como a diferença entre um abrolho e uma figueira? Será que meu coração é bom e está cheio de Cristo e minha boca, por consequência, sempre fala Dele? Lembrem-se: no céu não há lugar para árvores más, afinal “toda árvore ruim que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” – Mt: 7:19. Amém
Comments